segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ninguém mais preenche as tabelas da copa

Há um tempo atrás tínhamos o costume de ganhar as tabelas da copa e preenchê-las. Mas hoje com a cultura cada vez mais internauta e sem tempo para tudo, deixamos esse costume de lado.

Lembro da minha infância não muito distante, quando meu avô chegava com tabelas da copa do mundo de todos os jeitos, pequeninas de papel de revista, maiores de papelão, coloridas ou não. Mas sempre com aquelas bandeirinhas dos países mais conhecidos e aqueles que eu nunca tinha ouvido falar.
Ele escolhia uma das muitas tabelas que ganhava e me dava, pedia que eu anotasse todos os resultados. Era o nosso ritual. Eu não fui o neto primogênito que ele esperava, mas com tempo e preparo me tornei o neto-homem que ele ainda não tinha, mas versão saias.
Sentávamos  no sofá da sala, pegávamos as nossas tabelas, canetas bic sem bocal e mordida no fundo, algum petisco e esperávamos o início da copa do mundo. Não importava o horário do jogo, nós iríamos assistir (para o desespero da minha mãe, que tinha que me acordar cedo no outro dia).
Muitos jogos não eram emocionantes, não tinha os grandes craques da bola, nem conhecíamos os países, mas mesmo assim, discutíamos as jogadas erradas, os gols perdidos e no fim, anotávamos o placar na nossa tabela. Durante aquele mês, o ritual se repetia, a tabela ia sendo completada dia a dia, como um quebra-cabeça de peças incertas. E mais do que um jogo, era uma aproximação familiar. Meu avô não é necessariamente um exemplo de sentimentalismo e eu gostava de assistir aquele monte de gente correndo atrás de uma bola, que iam em busca de uma taça. Trazendo alegria para quem não tinha nada no armário para comer e para aqueles que assistem em grandes telões. Uma união. 
Não vou negar que tenho uma daquelas tabelinhas na minha bolsa, mas não sinto vontade de anotar o placar, nem acompanhar os jogos. Sem os petiscos, o sofá e o meu avô por perto, torcer pela seleção não faz tanto sentido.

Ps: Apesar de que ele me ligou para dizer que guardou uma linda para mim, com folhas no fundo que dava para fazer anotações. 

8 comentários:

  1. Lindo texto, sobre a sua família e sobre como é meio complicado "ficarmos" adultos e nos desfazermos ( por querer ou não) de certas rotinas que tínhamos quando mais jovens. Parabéns Marília e que preencha a sua tabela quando voltar a vê-lo.

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  2. Grande texto, garota. Senti-me totalmente representado nele. Lembro que tinha uma tabela dos postos Atlantic (ah, a idade) onde você colava as bandeirinhas dos países participantes. Até hoje lembro dos países participantes da copa de 82 (ah, a idade 2). Que o nosso blog volte para nos contemplar com seus textos primorosos. Beijos.

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  3. Eu nunca nem as preenchi, e sinceramente n me faz falta..rsrrs...Não gosto de futebol mesmo...rsrsrs..
    =1

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  4. Eu não tive Avô apesar de levar o nome do mesmo, já falecido antes do meu nascimento. O interessante, e vale ressaltar, que a tradição e neste sentido "preencher tabelinha de copa" é de certa forma um oposição as facilidades da web. A tradição tem como função perpetuar o conhecido e identidade, ainda tenho tabelinha, confesso que semi-preenchidas mas é meu posicionamento contra a fluidez da identidade esfacelada, para os nascido em 85 é questão do status-quo, ja não digo o mesmo para os garotos dos anos dois mil.

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  5. "ninguem mais morde o fundo da caneta bic sem bocal"

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  6. Nossa Lilaaah, como a cada texto seu me emocionoo aqui...
    os sentimentos que vc consegue expressar atraves das palavras, lembrei-me de qnd era mais novaa e ficava muito euforica a cada jogo de copa mundial, e hj até que assisto mas deitada sem muita alegria de torcedor no coração...
    é a infancia q deixamos pra trás a cada dia que andamos pra frente neh....
    Parabeeens!!

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  7. Liiiindo texto! E, ei, eu ainda preencho tabelas da copa. Aqui em casa cada um tem a sua! :*

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